Ronyere Ferreira[1]
Há 80 anos falecia
Jônatas Batista, fecundo literato piauiense do início do século XX, sem prejuízos aos variados gêneros, destacou-se especialmente como cronista e dramaturgo.
Jônatas foi figura
marcante na imprensa periódica e um dos principais nomes do teatro teresinense
durante as primeiras décadas do século XX, atuando em todas as funções possíveis,
desde assistente de palco a diretor e dramaturgo. Higino Cunha ao retratar sua
produção destacou:
O seu drama Jovita, ou a heroína de 1865, as suas revistas de costumes,
principalmente O Bicho, os seus
monólogos e cançonetas, tão aplaudidos pelo nosso público, já tiveram
repercussão lá fora, onde não contamos nenhum teatrólogo, e lhe facilitaram
ingresso na Sociedade Brasileira de Autores Teatrais, da qual é sócio, o único
piauiense que mereceu tamanha honra, até hoje. [2]
Juntamente com a
popularidade propiciada pela incansável atuação cultural, o literato convivia
com forte desilusão em relação seu meio, acusando por vezes a aversão que os
teresinenses teriam pelo teatro. Em crônica de 1924, Caio Salustio destacou que
os esforços de Jônatas Batista no movimento teatral da cidade seriam
infrutíferos, resultado da indiferença e desprezo pelas iniciativas culturais.[3]
A esse ressentimento
juntaram-se suas crises financeiras, inconciliáveis com seus empregos públicos
de pouca notabilidade, sua extensa família e seus gastos com a publicação de
periódicos e montagens de peças, provocando sua saída de Teresina em meados da
década de 1920, com destino ao Pará, onde foi Promotor Público, Advogado Rábula
e Secretário da Intendência.
Após rápida carreira
administrativa no Pará, transferiu-se para São Paulo, onde publicou seu segundo
livro de poemas, Alma sem rumo, foi acolhido
pelas rodas de intelectuais, estabilizou-se economicamente e abandonou o que
chamava de indiferença política, disputando uma vaga para Deputado Estadual nas
eleições de 1934, sem coligação partidária e angariando cerca de 2.900 votos.[4]
Um ano depois, 1935,
faleceu em sua casa, aos cinquenta anos de idade, acontecimento divulgado em
diversos Estados. O Jornal do Brasil,
do Rio de Janeiro, lembrou sua descendência tradicional do Norte do Brasil,
assim como a consternação provocada nos meios intelectuais.[5] Ao comentar a morte do literato, a revista feminina Vida Doméstica (PA) publicou o que noticiava ser seu último soneto,
escrito poucos dias antes de falecer, onde já saldava a calmaria da velhice:
Velhos, ó meus irmãos, eis-me
chegado
Ao vosso solitário acampamento...
Venho de longe, um tanto
fatigado,
E peço e imploro o vosso
acolhimento.
Agrada-me ficar ao vosso lado,
Na paz e quietação desse
convento,
Onde se evocam sonhos do passado,
Nesse doce e feliz
recolhimento... [...] [6]
Com sua extinção, em 15
de abril de 1935, Jônatas Batista deixou uma vasta produção literária dispersa
por vários Estados, um valioso testemunho sobre a realidade social das cidades
em que residiu, depoimento sobre a arte e a desilusão.
[1] Graduando em História pela
Universidade Federal do Piauí e bolsista do Núcleo de Pesquisa em Memória,
NUPEM/UFPI.
[2] CUNHA, Higino. O teatro em Teresina. Teresina:
Tipografia do Correio do Piauí, 1922, p. 4.
[4] Sobre a candidatura de Jônatas,
conferir: BOLETIM Federal. Diário Oficial
do Estado de São Paulo. São Paulo, ano 44, n. 223, 11 out. 1934, p. 13;
COLIGAÇÃO dos independentes. Diário
Oficial do Estado de São Paulo. São Paulo, ano 44, n. 252, 18 nov. 1934, p.
26; COLIGAÇÃO dos Independentes. Diário
Oficial do Estado de São Paulo. São Paulo, ano 44, n. 267, 7 dez. 1934, p.
21; QUADRO geral das apurações do pleito de 14 de outubro. Correio Paulistano. São Paulo, ano 81, n. 24.134, 25 out. 1934, p.
2.
[5] FALECIMENTOS. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, ano
45, n. 90. 16 abr. 1935, p. 12.
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