quarta-feira, 15 de abril de 2015

Jônatas Batista, arte e desilusão

Ronyere Ferreira[1]

Há 80 anos falecia Jônatas Batista, fecundo literato piauiense do início do século XX, sem prejuízos aos variados gêneros, destacou-se especialmente como cronista e dramaturgo.
Jônatas foi figura marcante na imprensa periódica e um dos principais nomes do teatro teresinense durante as primeiras décadas do século XX, atuando em todas as funções possíveis, desde assistente de palco a diretor e dramaturgo. Higino Cunha ao retratar sua produção destacou:
O seu drama Jovita, ou a heroína de 1865, as suas revistas de costumes, principalmente O Bicho, os seus monólogos e cançonetas, tão aplaudidos pelo nosso público, já tiveram repercussão lá fora, onde não contamos nenhum teatrólogo, e lhe facilitaram ingresso na Sociedade Brasileira de Autores Teatrais, da qual é sócio, o único piauiense que mereceu tamanha honra, até hoje. [2]
Juntamente com a popularidade propiciada pela incansável atuação cultural, o literato convivia com forte desilusão em relação seu meio, acusando por vezes a aversão que os teresinenses teriam pelo teatro. Em crônica de 1924, Caio Salustio destacou que os esforços de Jônatas Batista no movimento teatral da cidade seriam infrutíferos, resultado da indiferença e desprezo pelas iniciativas culturais.[3]
A esse ressentimento juntaram-se suas crises financeiras, inconciliáveis com seus empregos públicos de pouca notabilidade, sua extensa família e seus gastos com a publicação de periódicos e montagens de peças, provocando sua saída de Teresina em meados da década de 1920, com destino ao Pará, onde foi Promotor Público, Advogado Rábula e Secretário da Intendência.

Após rápida carreira administrativa no Pará, transferiu-se para São Paulo, onde publicou seu segundo livro de poemas, Alma sem rumo, foi acolhido pelas rodas de intelectuais, estabilizou-se economicamente e abandonou o que chamava de indiferença política, disputando uma vaga para Deputado Estadual nas eleições de 1934, sem coligação partidária e angariando cerca de 2.900 votos.[4]
Um ano depois, 1935, faleceu em sua casa, aos cinquenta anos de idade, acontecimento divulgado em diversos Estados. O Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, lembrou sua descendência tradicional do Norte do Brasil, assim como a consternação provocada nos meios intelectuais.[5] Ao comentar a morte do literato, a revista feminina Vida Doméstica (PA) publicou o que noticiava ser seu último soneto, escrito poucos dias antes de falecer, onde já saldava a calmaria da velhice:
Velhos, ó meus irmãos, eis-me chegado
Ao vosso solitário acampamento...
Venho de longe, um tanto fatigado,
E peço e imploro o vosso acolhimento.

Agrada-me ficar ao vosso lado,
Na paz e quietação desse convento,
Onde se evocam sonhos do passado,
Nesse doce e feliz recolhimento... [...] [6]

Com sua extinção, em 15 de abril de 1935, Jônatas Batista deixou uma vasta produção literária dispersa por vários Estados, um valioso testemunho sobre a realidade social das cidades em que residiu, depoimento sobre a arte e a desilusão.




[1] Graduando em História pela Universidade Federal do Piauí e bolsista do Núcleo de Pesquisa em Memória, NUPEM/UFPI.
[2] CUNHA, Higino. O teatro em Teresina. Teresina: Tipografia do Correio do Piauí, 1922, p. 4.
[3] SALUSTIO, Caio. Rosa do sertão. O Arrebol, ano 10, n. 66, 9 out. 1924, p. 2.  
[4] Sobre a candidatura de Jônatas, conferir: BOLETIM Federal. Diário Oficial do Estado de São Paulo. São Paulo, ano 44, n. 223, 11 out. 1934, p. 13; COLIGAÇÃO dos independentes. Diário Oficial do Estado de São Paulo. São Paulo, ano 44, n. 252, 18 nov. 1934, p. 26; COLIGAÇÃO dos Independentes. Diário Oficial do Estado de São Paulo. São Paulo, ano 44, n. 267, 7 dez. 1934, p. 21; QUADRO geral das apurações do pleito de 14 de outubro. Correio Paulistano. São Paulo, ano 81, n. 24.134, 25 out. 1934, p. 2. 
[5] FALECIMENTOS. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, ano 45, n. 90. 16 abr. 1935, p. 12.
[6] BATISTA, Jônatas. Aos velhos. Vida Doméstica, Belém, n. 206, maio 1935, [S/ P].

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